Recentemente postamos uma gravação caseira do Aniceto do Império em nosso blog, que como todos sabem, parece ter provocado muita polêmica.
Sofremos críticas por, supostamente, não ter dado os créditos a quem merece, a brilhante Cristina Buarque, que teria sido responsável pela guarda deste e outros arquivos preciosos.
Em primeiro lugar, gostaria de deixar claro que, se não citamos o nome de Cristina Buarque, não o fizemos por algumas boas razões: (i) não sabíamos que o arquivo provinha de seu acervo pessoal; (ii) infelizmente, jamais tivemos a felicidade e oportunidade de trocar sequer uma palavra com a mesma; e (iii) o arquivo não nos foi repassado por ela. Assim, entendo que mencionar o nome da sambista seria, no mínimo, pretensioso. No máximo, fantasioso.
Evidentemente, se foi Cristina a responsável pela difusão e manutenção de um arquivo como este, assim como a maior parte dos sambas inéditos cantados e gravados atualmente, que sabemos ou suspeitamos terem sido por ela transmitidos, merece todos os louros. E com ela, retratamo-nos, pedindo nossas sinceras desculpas. Em momento algum a intenção foi de deixar de honrar aqueles que realmente merecem.
O que me parece bastante curioso e contraditório é que a grande parte das críticas é feita por pessoas que sabemos terem construído seu arquivo com base no acervo de Cristina Buarque, Tinhorão, dentre outros. E estas mesmas pessoas, quando lhes parece interessante, ao postarem algo obtido por terceiros, não mencionam a fonte. Mais interessante ainda, foi constatar que quando postamos estes arquivos, diversas pessoas (quando eu digo diversas, quero me referir a mais de duas dúzias) nos abordaram com espanto, indagando: “como vocês conseguiram isso? Achei que quase ninguém tinha!”, ou ainda: “como vocês têm coragem de postar isso na internet?”.
Ora, isso só demonstra que o arquivo é mais do que conhecido por aqueles que estão envolvidos no samba. Só não havia ainda sido divulgado, entendo eu, por duas prováveis razões: (i) existe um grupo que pretende manipular e monopolizar a informação. Funcionam quase como uma seita secreta. No fundo, quase todo mundo, ou pelo menos os que compõem tal clã já possuem a obra. Mas não podem tornar explícito, divulgar na internet, afinal, se assim o fizerem, tudo perde a graça, eles perdem a sua importância e exclusividade. Pura hipocrisia.
A outra razão, que me parece concomitante à primeira, porém, que deve ser atribuída àqueles que possuem algum contato com o tal clã, muito embora ainda não tenham conseguido fazer parte do mesmo, é o temor. Sim, o medo de desagradar os deuses ou semideuses. “Ora, nós só obtivemos este áudio graças a eles, imaginem só se descobrem que repassamos a outros? Nos castigarão!”
Perdoem-me pela sinceridade, mas não posso nem quero concordar com este tipo de posição. Sonegar a informação é boicotar a cultura. Selecionar quando e o que divulgar é manipulação. E principalmente, é tratar o samba, maior expressão cultural da liberdade, com autoritarismo.
Sabotar e retaliar a divulgação da cultura é como o castigo dado a Prometeu por Zeus, por um dia ter ousado levar o fogo aos homens. Tenham a santa paciência, samba não é mitologia grega!
* Texto de Luciano Martins e Maíra Oltra